Quarta, 01 Novembro 2023 10:04

Direção só com álcool

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Não se vive sem o petróleo. E as maiores reservas economicamente exploráveis estão em uma área que vive em guerra. As grandes empresas petrolíferas, conhecidas como “As Sete Irmãs”, monopolizam a exploração e o transporte. O Ocidente depende do fluxo dessa matéria-prima, uma vez que construiu sua industrialização usando o petróleo como principal fonte energética. Isso transforma toda a região do Oriente Médio em um barril de pólvora, em que ataques, revoluções, assassinatos em massa, são constantes. O petróleo não convive com a paz. Fomenta a guerra e os motivos são os mais diversos. Atacar um navio petroleiro de uma empresa ocidental é como atacar uma parte do seu território. Provoca reação militar imediata. As potências gastam fábulas para manter tropas, navios e aviões militares. Dividem a região em áreas de influência e a posse dos campos mais produtivos de petróleo colaborou para que elas fizessem guerra entre elas, como a primeira e a segunda guerras mundiais. Há movimento de independência de alguns países, geralmente precedidos de guerras. Há divergências de toda ordem, inclusive religiosas e culturais, que movimentam populações de crentes.

O Oriente Médio não está fora do alcance da Guerra Fria. Americanos e russos possuem arsenais nucleares poderosos e se ameaçam mutuamente. O mundo vive, de novo, a perigosíssima paz armada. As ideologias de direita e de esquerda apresentam soluções políticas diametralmente opostas. Os países produtores de petróleo tomam consciência da importância do produto e articulam a formação de um cartel. Em vez de se submeter aos preços ditados pelas bolsas ocidentais, concordaram em diminuir a produção e impor o preço que acham justo pela matéria-prima. O movimento provoca um choque econômico global e o barril de petróleo multiplica de valor. Ou paga ou não leva, esse é o lema da OPEP, Organização dos Países Produtores de Petróleo, fundada em 1960. O fluxo de óleo vem do Oriente para o Ocidente ao mesmo tempo que o fluxo de dólares vai no sentido contrário. Os petrodólares. Inflação e déficit na balança comercial e de pagamentos. O impacto é maior no grupo de países chamados de emergentes, entre eles o Brasil.

O motorista brasileiro sofre ao pagar a conta da gasolina e do diesel no posto. Estes fecham por ordem do governo nos finais de semana. Passam a viver da lojinha de conveniência ou da cerveja e caipirinha servidas nas mesinhas misturadas com as bombas. Sem gasolina, o jeito é aproveitar a liberação do álcool. O governo, no auge da crise em 1973, se junta com a indústria automobilística e cientistas e lança o Proálcool. A matéria-prima é a cana-de-açúcar, plantada no Brasil desde a época colonial, mas que agora ganha uma nova dimensão, permitindo que os carros continuem nas ruas e nas estradas brasileiras. Os canaviais, concentrados no Nordeste, migram para o “Sul maravilha”, com os trabalhadores nordestinos convertidos em bóias-frias rurais. Grandes usinas produzem bilhões de litros – são o embrião do agronegócio, os carros movidos a álcool têm isenção de impostos, e a indústria jura por todas as velas e carburadores que o motor vai funcionar como um reloginho suíço. Aqueles movidos a corda. Porém, pela manhã, o motor ressentido da ressaca etílica do dia anterior se recusa a funcionar. 

Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro é jornalista, professor e  atua no rádio e na TV há muitos anos. Com uma voz marcante se tornou referência no jornalismo de rádio. No comando do Jornal da Record News desde 23 de maio de 2011, Heródoto é uma figura difícil de não admirar, é difícil desvincular sua imagem do jornalismo. Entre colegas de trabalho, ele é sempre chamado de professor, não só por ser um exemplo para muitos, mas por sua simplicidade, simpatia e humildade frente sua competência. "Parece, mas não é", é a sua coluna no Portal Universo de Rose, toda quarta-feira.

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